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Cidades / Cuiabá

CUIABÁ - 289 ANOS NOSSAS HOMENAGENS


08/04/2008

Cuiabá De Meus Amores - CCXXCIX

Paulo Zaviaski

Minha boca está com aquele gostinho do beijo da namorada e do bolo dos 250 anos que Gilda e Rabello Leite tão gostosamente prepararam de modo exagerado no dia de ontem, 8 de abril de 1969, bem em frente do Palácio Alencastro que era do governo estadual comandado pelo governador Pedro Pedrossian. O bolo era quase do tamanho do Jardim Alencastro.

Época de ouro da gente cuiabana que recebia de presente a TV Centro América. Começava a globalização por aqui também. As nossas crianças começavam ali a pronunciar bem diferente aquela cultura valiosa de nossos ancestrais heróis.

Fincávamos o pé no futuro.

Nossa fama de povo hospitaleiro corria o mundo, assim como a mania de apelidarmos todo mundo e a filtrarmos os mal intencionados. Daqueles eternos e insistentes 35 mil habitantes, passamos logo para 38 mil habitantes. Sonhávamos com prédios. Desejávamos conhecer um asfalto de perto e sermos apresentados ao vivo para ele. Apenas conhecíamos um nome complicado para o calçamento de nossas ruas: paralelepípedo.

Barro, buracos ou paralelepípedos. Tem até aquela história do Chonezinho, funcionário do Banco do Brasil, 1,58 m de altura e bom volante do Mixto (com “x”) Esporte Clube. Correspondia com uma namorada. Mandou os pedreiros vizinhos tirarem todos os paralelepípedos de frente de sua casa ali na Joaquim Murtinho, fundos da Maternidade de Cuiabá, hoje Hospital Geral, por causa dessa palavra complicada demais para seus versos de amor naquelas cartas das saudades. Paralelepípedo.

Quem de nossa geração deixou de sonhar com um prédio de verdade? Aqueles grandões de mais de três ou quatro andares como nos filmes do Cine Teatro Cuiabá.

E assim, de mil em mil habitantes Cuiabá foi crescendo. Raiva maior não existia quando o IBGE divulgava que Cuiabá já possuía quase 40 mil habitantes. Protestávamos. Nosso cálculo é que a nossa Cuiabá já tinha mais de 49 mil habitantes, beirando os 50 mil.

Hoje, ao contrário, pisamos fundo no freio nessa subida rumo ao progresso. Não queremos mais prédios, gaiolas das loucas, pombais de periquitos, concreto puro que, com o nosso Sol representam um forno de microondas ou, falando cuiabanamente, um forno perfeito para nossos bolos de arroz.

Nem esse asfalto-frigideira. Nosso clima era ameno por causa dos mangueirais e das ruas de chão batido. Não acumulava calor. Paredes de taipa socada, grossas com quase um metro de largura, barro puro. Telhas de barro numa altura nunca inferior que sete ou oito metros. Hoje, chão de concreto. Paredes de concreto. Telhado de Lages concretadas. Tudo fininho, pequenino e baixinho que até parece que chupa o Sol para dentro desses pombais das loucas. Torra tanto que os loucos ficam bons e os bons ficam loucos pelo cérebro pasteurizado. É a tal de inversão de valores.

Meu Deus, como tinha lugar para namorar.

Disseram por aí que Cuiabá possui hoje mais de 500 mil habitantes e que juntando a Grande Cuiabá ou o Vale do Cuiabá inteiro, planície cuiabana que alguns analfabetos falam “baixada”, como se o nosso rio fosse mar, daria mais de um milhão de habitantes.

Nada disso. Prefiro e preciso acreditar que ainda temos uns 49 a 53 mil habitantes.

Vida noturna de dar água na boca de muita gente grande por aí. E não era apenas o Bar Internacional e o mais recente, o mais novo, o bebezinho Choppão.

O “point” de tudo era o Bar do Beto, na Avenida Vargas, pouco acima da Rua Barão de Melgaço. Como não sou historiador como o Jucá, cito o Sayonara, Balneário Santa Rosa, o Tabariz que era um luxo de boate que sempre denominamos de “zona” do baixo meretrício com aquelas famosas loiras ao vivo e à cores e que faziam o nosso amigo índio da tribo boróro (o acento paroxítono é proposital para contestar os dicionários quanto a pronúncia eterna e verdadeira com o “o” aberto e, repito, paroxítona como a própria tribo pronuncia) o saudoso Juruna beber demais e se esquecer totalmente do motivo pelo qual tinha ido até lá.

Juruna foi até político e ganhou um gravador por nunca confiar na palavra de branco.

Diariamente, reuníamos no Bar Pinheiro que ficava ao lado do Bar Moderno ou “Bar do Bugre”, a partir das 18 horas quando acabavam os expedientes da maioria das repartições públicas. No final da noite, dezenas de garrafas estacionadas debaixo de nossas mesas impunham o retorno à base, para casa dormir. Lá pelas dez ou onze horas da noite. Daí para frente era madrugada dos guerreiros do “Bar Colorido” (na Prainha, quase em frente da Igreja do Rosário ou S.Benedito cuja frente desse bar famoso ficava exatamente “para” os fundos da outra Igreja dali mesmo, a Bom Despacho) cujas histórias fantásticas nem a TV Globo ainda produziu.

A rua Pedro Celestino ou “rua de cima” era estreita. O Bar Pinheiro e o Bar do Bugre ficavam bem no começo da rua. Juntinhos da Avenida Vargas. Tinham como cenário, a lateral da Matriz de Cuiabá. A roda era imensa e passava do meio da rua, bem em frente do Palácio do Governo pois ainda não haviam inventado o Palácio Alencastro que somente foi construído tempos depois quando inventaram os CPAs que, nessa época, era floresta amazônica pura que o engenheiro da NASA, nosso Roberto Loureiro, o inventor apaixonado das barragens pela energia elétrica, sempre afirma ser apenas um cerrado.

É salutar o registro de que, a partir das 18 horas raras eram as vezes que a turma tinha que “apertar a roda” (êpa) para deixar um carro passar. Assim mesmo, todo